ENSINAR QUEM SABE MENOS, APRENDER COM QUEM SABE MAIS

O Ministério da Educação iniciou hoje uma formação, em todo o pais, para mais de 40 mil professores visando o reforço das suas competências em Língua Portuguesa e Matemática, no âmbito do Projecto Aprendizagem para Todos (PAT), financiado pelo Banco Mundial (BM). Apender com quem sabe mais, ensinar quem sabe menos? Será?

Numa nota de imprensa, o Ministério da Educação refere que o ciclo de formação começa na capital com uma formação de formadores destinada a directores de escolas, professores do ensino primário e secundário, coordenadores de classe, de disciplina, de curso e membros da comunidade educativa. Luanda acolhe a fase inicial desta acção formativa de dimensão nacional e deve congregar mais de 100 participantes oriundos das dezoito províncias angolanas.

Reforçar as competências dos formandos em relação à prática pedagógica de Língua Portuguesa e Matemática, as competências dos professores e gestores para o funcionamento das escolas conforme as directrizes de segurança no contexto da Covid-19 constituem alguns dos objectivos desta formação.

As autoridades propõem-se, também, esclarecer eventuais dúvidas sobre os programas em curso, definidos para as diferentes disciplinas e níveis de ensino, e a sensibilizar os professores para uma gestão adequada dos programas de ensino.

A iniciativa perspectiva capacitar, em todo o país, 43.107 professores do ensino primário e 3.008 professores do ensino secundário para melhor avaliarem as competências oral e escrita dos respectivos alunos.

Recorde-se que no passado dia 14 de Julho, Portugal e Angola assinaram um acordo de financiamento de mestrados para formação de professores angolanos, através de uma parceria com a Universidade do Minho, que conta com um apoio de 150 mil euros do Instituto Camões.

O secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação de Portugal, Francisco André, realçou, após rubricar o acordo, em Luanda, a sua importância para a cooperação portuguesa, sublinhando que está alinhado com os objectivos estratégicos de cooperação que se pretende desenvolver com Angola e com os objectivos de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas.

“Este modelo corresponde à evolução da cooperação entre os nossos dois países”, declarou Francisco André, destacando “a liderança e iniciativa” que as autoridades angolanas demonstraram neste processo.

“Estaremos juntos no fim para avaliar de forma objectiva os resultados do programa”, acrescentou.

Francisco André, que se encontrava em Angola no âmbito da cimeira da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), indicou que a visita serviria também para passar em revista vários assuntos da cooperação portuguesa com a administração pública angolana e fazer um ponto de situação.

Mas servirá principalmente, prosseguiu, para “reforçar os laços entre os dois países” e programar a relação futura no próximo quadro europeu de cooperação externa, onde Portugal e Angola estão envolvidos.

Trata-se, neste caso, do envio de 100 estudantes angolanos para o Instituto de Educação da Universidade do Minho, para fazerem cursos de mestrado em metodologias especiais do pré-escolar, ensino primário e primeiro e segundo ciclo, explicou.

Se “haver” necessidade, venha o “compromissio”

Em Janeiro de 2020, a ministra da Acção Social, Família e Promoção da Mulher, Faustina Alves, apelou, em Luanda, aos jornalistas angolanos para trabalharem como agentes voluntários junto das comunidades, para extraírem informações concretas que ajudem o Executivo a traçar projectos que vão ao encontro das necessidades da população, em especial as mais vulneráveis.

Se, citando o Presidente do MPLA (João Lourenço), “haver” necessidade (em português deveria ter dito “houver”), alguns jornalistas (poucos, é certo) poderão também ensinar os membros do governo, bem como outros altos dignitários do poder do MPLA, a escrever (e a falar) português. Poderão também, citando agora a ex-ministra da Educação, Ana Paula Tuavanje Elias, assumir o “comprimissio” de escolarizar alguns.

De acordo com o Jornal de Angola, Faustina Alves, que na altura falava no seminário dirigido a jornalistas sobre o “Novo Paradigma da Acção Social”, disse ser urgente que os jornalistas se capacitem mais em matérias ligadas à acção social e que executem o seu trabalho com brio profissional.

É claro que os jornalistas (alguns) consideram ser urgente que os governantes se capacitem mais em matérias ligadas à acção social e que executem o seu trabalho com brio profissional, o que raramente acontece no nosso país.

Para a ministra, esta acção tinha como objectivo criar uma plataforma de diálogo com os jornalistas e tê-los como actores na abordagem de questões ligadas à missão e prioridades do Governo.

Por sua vez o então secretário de Estado da Comunicação Social, Celso Malavoloneke, reconheceu que para que os jornalistas possam cumprir cabalmente com o seu papel de informar e promover conhecimentos e atitudes que contribuam para os objectivos propostos, as acções de formação frequentes são necessárias.

Se calhar não seria mau dizer que, cada vez mais, são necessárias e urgentes acções de formação frequentes para todos os membros do governo, evitando assim que – entre uma enciclopédia de casos de manifesta incompetência – confundam o corredor de fundo com o fundo do corredor.

“Queremos que esta acção formativa seja o primeiro passo, porque a qualidade das coberturas jornalísticas sobre as actividades do MASFAMU (Ministério da Acção Social, Família e Promoção da Mulher) vai ser directamente proporcional à quantidade e à qualidade das acções de formação ministradas”, frisou.

Segundo Celso Malavoloneke, era (presumimos que continue a ser) importante que os profissionais de comunicação social sejam especializados sobre assuntos de acção social, para que ao abordarem as matérias possam fazê-lo com eficiência. Por outras palavras, deduz-se, também os governantes deverão ser especializados nos assuntos que estão sob sua jurisdição, o que manifestamente não acontece. É claro que o facto de ser militante do MPLA é, de per si, mais do que suficiente para alguém se tornar perito em tudo, seja no achatamento polar das batas ou na “circulatura” do quadrado.

Gay Talese (esse perigoso inimigo dos regimes totalitários) no livro “The Kingdom and the Power” (“O Reino e o Poder”), publicado em 1971, diz que “o papel da imprensa, numa democracia, é atravessar a fachada dos factos”.

Pois é. Mas onde está a tese de que os jornalistas existem para dar voz a quem a não tem? Essa parece ter morrido em combate.

Na verdade, não existe nas linhas de montagem de textos de linha branca nenhuma autonomia editorial e, ou, independência. E não existe sobretudo, mas não só, por culpa dos “jornalistas” que, sob a conveniente (sinónimo de bem remunerada) capa da cobardia se deixa(ra)m transformar em autómatos ao serviço dos mais diferentes protagonistas, sejam políticos, partidários, sindicais ou empresariais.

Como diz Gay Talese, cabe ao jornalista procurar incessantemente a verdade e não se deixar pressionar pelo poder público ou por quem quer que seja. Não interessa se as opiniões são do Secretário-Geral da ONU, da Rainha de Inglaterra, do Presidente da República de Portugal ou do “dono” de Angola, de seu nome João Lourenço.

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